terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Museu Rainha Sofia, em Madrid, em colaboração com a Tate Modern de Londres, vai ter patente ao público, até ao próximo dia 11 de Janeiro, a exposição “Rodchenko e Popova – Definindo o Construtivismo”.

Esta mostra procura colocar em diálogo aqueles dois artistas que se converteram no eixo de uma das mais inovadoras “rebeliões” estéticas e formais do século passado, que exprimiram a sua atitude em vários géneros de intervenção: na pintura, na escultura, na fotografia, na arquitectura, no desenho de moda e em cartazes.

Aleksandr Rodchenko (1891-1956) e Liubov Popova (1889-1924), não tendo sido os pioneiros do chamado Construtivismo Russo, foram aqueles, nesse movimento, que o levaram mais longe.
Aliás, o nome do movimento foi introduzido por Malevich em 1917, para descrever o trabalho de Rodchenko.
Manuel Borja-Villel, director do“Rainha Sofia” salienta o facto de esses dois artistas terem trabalhado “numa época de crise sistemática”, muito parecida com aquela que “atravessamos agora”.

Os Construtivistas entendiam a arte como mais uma ferramenta para transformar a sociedade. Nessa perspectiva, consideravam que o artista tinha de utilizar os seus materiais de forma científica e com objectividade, tal como um engenheiro, e que a produção de obras de artes devia restringir-se aos mesmos princípios racionais seguidos na construção de qualquer outro objecto manufacturado.
O movimento foi muito marcado por um espírito experimental que reflectia uma vontade colectiva de mudança, formalmente caracterizado pela sobreposição de planos, pelos jogos de sombras, pelos ângulos, pelo uso de colagens, pela investigação no uso das cores e do preto e branco.
Muito marcados pela Revolução Russa, estes artistas tinham um “enorme sentido cívico e proletário”, como era o caso de Popova, o qual, segundo explica Borja-Villel, assumia “sem rupturas o seu trabalho numa fábrica têxtil e a sua actividade artística”.
Com a revolução russa, o construtivismo, cujo pioneiro foi Tatlin (1885-1953), juntamente com o antecessor “suprematismo” de Malevitch, acompanhados pelo regresso à sua pátria do pai do abstraccionismo, Kandisnky, constituíram aquilo que se chamou de “vanguardismo russo”, oficialmente apoiado por Lenine
A liberdade destes artistas acabou por chocar com a chegada da época stalinista, não sobrevivendo à imposição do realismo socialista, na década de 30, como estilo oficial da Rússia soviética, que obrigava ao regresso da pintura de cavalete e à arquitectura clássica monumental .

A exposição agora patente em Madrid reúne cerca de 350 trabalhos realizados por aqueles artistas entre 1917 e 1929 que descreve o itinerário do grupo, ao qual estavam igualmente vinculados cineastas como Eisenstein e poetas como Maiakovski.
A obra de Kandisnky, de outros artistas do movimento, bem como o cinema e o teatro que foram fundamentais para o desenvolvimento do construtivismo, têm um espaço de destaque nesta mesma mostra, sendo de destacar a projecção de dois filmes que revelam a ligação do movimento ao mundo do cinema, “ A Jornalista”(!927) de Lev Kuleshov, e “Moscovo em Outubro”, de Boris Barnet.

(texto escrito com base na reportagem publicada pelo EL Mundo, em 20 de Outubro último, da autoria da jornalista António Lucas, sobre a exposição)



 “Formas que dançam sobre um fundo branco (1920) de Stepanova. Óleo sobre tela, 107,5x143,5cm. Galeria Estatal Tetriakov, Moscovo.



“Construção dinâmico-espacial (1921), Popova, Óleo sobre madeira, 71,1x64,3 cm. Museu Estatal de Arte Contemporânea de Tesalónica. Colecção George Costakis.



“Construção de Planos de Cor (1921), de Exter. Óleo sobre tela, 89x89 cm, Museu Estatal de Arte Radishchev de Sarov.



 “Construção espacial, colagem nº11. Quadrado dentro de um Quadrado” (1921), da segunda série de construções espaciais baseadas no princípio da igualdade das formas, superfícies reflectidas, de Rodchenko. Gelatina de prata, 15,6x11,7cm. Colecção Particular.



 “Construção” (1920), de Popova. Óleo sobre tela, 106,8x88,7 cm. Galeria Estatal Tretiakov de Moscovo.



“Desenho Têxtil” (1924), de Rodchenko. Tinta da China e guache sobre papel, 19x24 cm. Colecção Particular.




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