segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Visitar uma outra Madeira

Nestes dias marcados pelas terríficas imagens da tragédia que se abateu sobre a Madeira, talvez seja recomendável descansar os nossos olhos e a nossa mente sobre uma outra imagem daquela ilha.
Propomos uma visita virtual ao Museu de Arte Sacra do Funchal, principalmente ao seu acervo de Arte Flamenga, nas suas vertentes de pintura, escultura e ourivesaria.
Bem perto de nós, pode ainda ser visitada em Lisboa, até ao próximo dia 28 de Fevereiro, no Palácio Nacional da Ajuda, a exposição "Obras de Referência dos Museus da Madeira - 500 anos da História de um Arquipélago".
As imagens de esperança transmitidas pela beleza dessas obras recorda-nos a capacidade do povo madeirense em recuperar das tragédias que contrastam com a beleza da região.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

No 101º aniversário da fundação do Futurismo

Formas Únicas de Continuidade no Espaço, de Umberto Boccioni, 1913

Passam hoje 101 anos da publicação do polémico e controverso “Manifesto Futurista” da autoria do poeta Filippo Tommaso Marinetti, publicado no jornal francês “Le Figaro”.
Esse texto deu início a um dos mais importantes movimentos artísticos do século XX.
A primeira exposição artística futurista, onde se aplicavam os temas e as características desse movimento teorizados por Marinetti, teve lugar em Milão em 30 de Abril de 1911.
As ideias controversas desse movimento levaram a que muitos dos artistas desse movimento, no pós 1º Guerra, se aproximassem do fascismo italiano.
De qualquer modo, as novas ideias desse movimento, rompendo com o conservadorismo artístico, abriram caminho às novas vanguardas do início do século XX.
O Modernismo português bebeu muito da sua influência nesse movimento.

Manifesto Futurista

"Então, com o vulto coberto pela boa lama das fábricas - empaste de escórias metálicas, de suores inúteis, de fuligens celestes -, contundidos e enfaixados os braços, mas impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da terra:

1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.

2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.

3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.

4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.

5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no circuito de sua própria órbita.

6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.

7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.

8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a eterna velocidade omnipresente.

9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.

10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo o tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.

11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas eléctricas: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes: as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o voo deslizante dos aviões, cujas hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão entusiasta.

É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários.

Há muito tempo que a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos incontáveis museus que a cobrem de cemitérios inumeráveis.

Museus: cemitérios!... Idênticos, realmente, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se conhecem. Museus: dormitórios públicos onde se repousa sempre ao lado de seres odiados ou desconhecidos! Museus: absurdos dos matadouros dos pintores e escultores que se trucidam ferozmente a golpes de cores e linhas ao longo de suas paredes!

Que os visitemos em peregrinação uma vez por ano, como se visita o cemitério dos mortos, tudo bem. Que uma vez por ano se desponte uma coroa de flores diante da Gioconda, vá lá. Mas não admitimos passear diariamente pelos museus, nossas tristezas, nossa frágil coragem, nossa mórbida inquietude. Por que devemos nos envenenar? Por que devemos apodrecer?

E que se pode ver num velho quadro, senão a fatigante contorção do artista que se empenhou em infringir as insuperáveis barreiras erguidas contra o desejo de exprimir inteiramente o seu sonho?... Admirar um quadro antigo equivalente a verter a nossa sensibilidade numa urna funerária, em vez de projectá-la para longe, em violentos arremessos de criação e de acção.

Quereis, pois, desperdiçar todas as vossas melhores forças nessa eterna e inútil admiração do passado, da qual saís fatalmente exaustos, diminuídos e espezinhados?

Em verdade eu vos digo que a frequentação quotidiana dos museus, das bibliotecas e das academias (cemitérios de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados, registros de lances truncados!...) é, para os artistas, tão ruinosa quanto a tutela prolongada dos pais para certos jovens embriagados, vá lá: o admirável passado é talvez um bálsamo para tantos os seus males, já que para eles o futuro está barrado... Mas nós não queremos saber dele, do passado, nós, jovens e fortes futuristas!

Bem-vindos, pois, os alegres incendiários com os seus dedos carbonizados! Ei-los!... Aqui!... Ponham fogo nas estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais para inundar os museus!... Oh, a alegria de ver flutuar à deriva, rasgadas e descoradas sobre as águas, as velhas telas gloriosas!... Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!

Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: resta-nos assim, pelo menos um decénio mais jovens e válidos que nós deitarão no cesto de papéis, como manuscritos inúteis. - Pois é isso que queremos!

Nossos sucessores virão de longe contra nós, de toda parte, dançando à cadência alada dos seus primeiros cantos, estendendo os dedos aduncos de predadores e farejando caninamente, às portas das academias, o bom cheiro das nossas mentes em putrefacção, já prometidas às catacumbas das bibliotecas.

Mas nós não estaremos lá... Por fim eles nos encontrarão - uma noite de inverno - em campo aberto, sob um triste telheiro tamborilado por monótona chuva, e nos verão agachados junto aos nossos aviões trepidantes, aquecendo as mãos ao fogo mesquinho proporcionado pelos nossos livros de hoje, flamejando sob o voo das nossas imagens.

Eles se amotinarão à nossa volta, ofegantes de angústia e despeito, e todos, exasperados pela nossa soberba, inestancável audácia, se precipitarão para matar-nos, impelidos por um ódio tanto mais mais implacável quanto os seus corações estiverem ébrios de amor e admiração por nós.

A forte e sã injustiça explodirá radiosa em seus olhos - A arte, de facto, não pode ser senão violência, crueldade e injustiça.

Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: no entanto, temos já esbanjado tesouros, mil tesouros de força, de amor, de audácia, de astúcia e de vontade rude, precipitadamente, delirantemente, sem calcular, sem jamais hesitar, sem jamais repousar, até perder o fôlego... Olhai para nós! Ainda não estamos exaustos! Os nossos corações não sentem nenhuma fadiga, porque estão nutridos de fogo, de ódio e de velocidade!... Estais admirados? É lógico, pois não vos recordais sequer de ter vivido! Erectos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas!

Vós nos opondes objecções?... Basta! Basta! Já as conhecemos... Já entendemos!... Nossa bela e hipócrita inteligência nos afirma que somos o resultado e o prolongamento dos nossos ancestrais. - Talvez!... Seja!... Mas que importa? Não queremos entender!... Ai de quem nos repetir essas palavras infames!...

Cabeça erguida!...

Erectos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas."

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O Museu Medieval de Cluny revive o Gótico Radiante Parisiense

Foi inaugurada em Cluny, no passado dia 10 de Fevereiro, uma exposição que reúne mais de duas centenas de peças representativas do estilo Gótico, cujas características foram desenvolvidas no século XIII na capital gaulesa, que se tornou o centro de difusão de uma das fases mais significativas da arte medieval.

O Gótico parisiense, também conhecido como “Gótico radiante” revela-se em todo o seu esplendor em dois dos mais importantes monumentos parisienses, a Igreja de Notre-Dame e a Sainte Chapelle, com os seus vitrais.

Paris tornou-se então o centro cultural da Europa e a ela afluíam artistas de todo “mundo” que queriam ver as novidades artísticas da cidade e levavam consigo as novas tendências artístico-culturais.

O gótico radiante parisiense evoluiu a partir do trabalho dos mestres que haviam construído as catedrais de Bourges, Chartres, Reims, Amiens e Beauvais, todas localizadas à volta de Paris.

Estas, por sua vez, tinham evoluído a partir da catedral beneditina de Saint-Denis, igualmente nos arredores de Paris, cuja reconstrução, sob a orientação do abade Suger, entre 1137 e 1144, deu origem ao estilo gótico.

A decoração do gótico radiante procurava ocultar a arquitectura das paredes, pelo uso de ornamentações vegetais exuberantes ou pelas “paredes” de vitrais.

Segundo o jornal “El País” de 9 de Fevereiro último, a exposição do Museu de Cluny recolhe muitos dos elementos arquitectónicos característicos do gótico radiante que pertenceram a templos parisienses já desaparecidos ou alterados ao longo do tempo, alguns mais puros e perfeitos que Notre Dame ou a Sainte-Chapelle.

Na arte daquela época “cada espaço do templo faz parte do conjunto, cada elemento cumpre uma função decorativa”.

“Os contrafortes unem-se às paredes e ficam ocultos por uma decoração cada vez mais exuberante”.

Xavier Dectot, comissário dessa exposição, refere que essa linguagem arquitectónica se expandiu desde Paris para todo o mundo cristão.

Em Paris o estilo manteve-se até ao século XIV. A partir deste século os arquitectos começaram a mudar de gosto, dando lugar à maior exuberância do gótico flamejante, que antecede a arquitectura do Renascimento .

A exposição pode ser vista até ao próximo dia 24 de Maio.







quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"QUARTA-FEIRA DE CINZAS" de Carl Spitzweg

"4ª Feira de Cinzas" é um quadro do pintor alemão Carl Spitzweg (1808-1885).

Nascido em 5 de Fevereiro de 1808, foi autor de mais de mil e quinhentos quadros, explorando temas de paisagem ou da vida quotidiana.

Autor de teatro, poesia e de ilustrações satíricas, é considerado um dos mais importantes pintores românticos da Alemanha.

O quadro que aqui se reproduz é revelador, pelo tratamento que dá à iluminação, da sua admiração pelos mestres da pintura flamenga.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

"A LUTA ENTRE O CARNAVAL E A QUARESMA" de Brueghel

A propósito da quadra do Carnaval, recordamos uma das obras mais antigas e características alusivas à época, o quadro de Pieter Bruegel (ou Brueghel), o Velho, intitulada “Luta entre o Carnaval e a Quaresma”.

Nascido provavelmente em 1525, não se sabe se na actual Holanda se na actual Bélgica, Bruegel, foi um dos mais marcantes artistas da chamada pintura flamenga do período renascentista.

Grande parte das temáticas da sua obra versam sobre o quotidiano da vida camponesa e sobre as paisagens da Flandres.

Falecido em 1569 em Bruxelas, os seus filhos seguiram-lhe as pisadas como pintores, ficando conhecidos como Pieter Brueghel o jovem e por Jan Brueghel o velho.

O quadro que aqui reproduzimos foi pintado em 1599, tem as dimensões de 118x164 cms e pertence actualmente ao Kunsthistorisches Museum de Viena .

A parte central do quadro é dominado pelos excessos próprios do carnaval, marcados pela desordem e pela euforia, enquanto que, na igreja lateral, a austeridade da roupa e a fila ordeira de figuras clericais que dela saem parece anunciar o fim da festa carnavalesca e o início da quaresma.

Neste quadro, cheio de ricos pormenores, como é aliás característico na obra do pintor, podem observar-se exemplos de ancestrais tradições do Entrudo.


Pormenor - brincadeiras de Carnaval

Pormenor - uma sátira ao tribunal da  Inquisição

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

No 185º aniversário de Francisco Metrass


Foi no dia 7 de Fevereiro de 1825 que nasceu em Lisboa Francisco Metrass.
O quadro acima reproduzido, intitulado “Só Deus”, de 1856, é talvez a obra mais conhecida de Metrass, uma das obras mais emblemáticas do romantismo português, pelo seu dramatismo e pela presença da morte.
Uma mulher arrastada numa enxurrada, procura salvar o filho de olhar aterrorizado.
O quadro, que faz parte do espólio do Museu do Chiado em Lisboa, um óleo sobre tela com 120x154 cm., desenvolve-se ao longo de uma diagonal que as águas, em fúria, contrapõem.
“Só Deus”, “Presente” no tronco a desfazer-se, ao qual a mulher se segura em desespero, pode ainda salvá-la, e ao filho, do drama da morte anunciada, cujo desfecho fica suspenso no momento temporal da cena pintada.

Para saber mais sobre Metrass:

“Metrass (Francisco Augusto).

n. 7 de Fevereiro de 1825.
f. 14 de Fevereiro de 1861.

Célebre pintor do século XIX. N. a 7 de Fevereiro de 1825.
Seu pai preferia que ele seguisse a carreira do comércio, mas Metrass, impelido por uma vocação irresistível, entrou para a Academia de Belas Artes em 1836. No concurso trienal de 1843, em que figuraram Fonseca filho, Joaquim José Marques, João Pedro de Sousa e Metrass, não obteve este nem um accessit. Contudo já Rackzinsky o distinguira, e em 1844 Metrass partiu para Roma, onde estudou debaixo a direcção dos grandes pintores alemães da escola mística Overbeck e Cornelius. «Entregue, pois, diz um dos seus biógrafos, à direcção de Overbeck que foi ainda mais que seu mestre, que foi seu iniciador, aprendeu com ele não só a prática de muitos dos melhores processos da arte, mas as teorias que depois o ensinaram a interpretar e a realizar a pintura, tanto religiosa como profana, com a elevação de sentimento, com a suavidade de estilo; e sobretudo com a nobreza e brandura de expressão moral, que alumia as suas principais obras da idealidade serena que, semelhante à luz branda que bruxuleia em breves ondulações dentro da redoma de alabastro, derramando em torno de si um crepúsculo suavíssimo, se exala da sua alma terna e contemplativa.» O primeiro quadro de Metrass, pintado debaixo. dessas inspirações, foi o Jesus acolhendo as crianças. Esse quadro revela já uma esperançosa vocação, mas é ainda medíocre. Entretanto Metrass percorria uma parte da Itália, visitava Florença, Bolonha, depois voltou para Portugal, passando por Paris, fez em Lisboa uma rápida exposição dos seus quadros nas salas da casa que ocupava no palácio dos condes de Lumiares a S. Roque, foi em seguida à exposição filantrópica da Sala do Risco, onde apareceram, além do Jesus acolhendo as crianças, uma Família Sagrada um retrato do artista e vários esbocetos. Mas, continuou a ficar desconhecido. O público passava indiferente pelos seus quadros. Despeitado, vendeu-os a um corretor de leilões, e foi estabelecer-se no Cais do Sodré a tirar retratos. Como tinha, porém, alguns bens de fortuna, pôde viajar de novo, foi a, Paris, empregou-se mais no estudo da arte moderna, estudou também Rubens, Rembrandt e Van-Dick, e voltou enfim em 1853 com um quadro que mereceu os encómios da imprensa e o aplauso do público. Era o Camões e o Jau. Comprou este quadro el-rei D. Fernando, e Metrass, animado, principiou a esboçar alguns quadrinhos orientais, como a Caravana atravessando o deserto, em que se admira um vigoroso efeito de luz; mas em geral esses quadrinhos pouco valiam, e onde o talento do pintor se revelou de novo com mais energia foi na Viúva junto do cadáver do esposo, uma verdadeira elegia, em que o talento melancólico do artista se manifestava de um modo tocante. A Menina e a Pomba é uma delicada inspiração sentimental. Ainda no ano de 1863 Metrass apresentou a Inês de Castro, em que pela primeira vez se arrojava à pintura histórica, tentativa em que não foi completamente feliz.

Em 1854, vagando o lugar de substituto da cadeira de pintura histórica, Metrass foi ao concurso. O tema do concurso era o Juízo de Salomão. O quadro de Metrass foi um verdadeiro primor, e nele se revelaram qualidades inesperadas de energia; nesse mesmo concurso tez Metrass num improviso de três horas um esboceto do Enterro de Cristo. Como composição é esta uma das suas melhores obras. Senhor completamente de todos os recursos do seu talento, Metrass apresentou na exposição trienal de 1856 dois quadros admiráveis, talvez os seus dois quadros mais célebres: Só Deus e a Leitura do romance. Enfim, depois de pintar um quadro fugitivo mas encantador, a Rola dormindo, mostrou-se no apogeu do seu talento, pintando a grande página histórica do Camões lendo os Lusíadas. Mas, depois de ter revelado o que podia, Metrass viu-se interrompido na força do talento e da existência pela mão gelada da morte. Um seu excelente quadro, o Porta Estandarte, já ficou interrompido. A tísica paralisava-o. Aconselharam-lhe uma viajam à Itália, foi, mas voltou pior; aconselharam-lhe ainda como recurso extremo uma viagem à Madeira, partiu, mas não voltou. Morreu nessa ilha no dia 14 de Fevereiro de 1861, contando apenas 36 anos de idade, deixando a sua obra incompleta, quando todos esperavam que tivesse brotado enfim neste país, tão estéril artisticamente, um novo Sequeira”.

Transcrito por Manuel Amaral

In PORTUGAL – DICIONÁRIO HISTÓRICO