quarta-feira, 12 de maio de 2010

A visita do Papa e a (falta) de estética católica - num texto do Público

"A (falta de estética)católica e os avisos do Papa.

por António Marujo, Público 12 de Maio de 2010

“Há uma estética na Igreja Católica feia e ridícula, presa que está a expressões de um passado recente – séculos XIX e XX, em que o catolicismo se zangou com a arte e vice-versa – ou à reprodução deslocada de ícones de séculos.

“Quando, esta manhã, o Papa falar sobre a beleza perante mais de mil artistas, criadores e pensadores portugueses, não poderemos deixar de pensar que, em Portugal, há ainda um caminho para fazer. Mesmo se, nesta matéria, muito têm conseguido várias estruturas católicas, num percurso de reencontro com a beleza. Iniciativas em dioceses como Lisboa, Porto, Beja ou Viseu ou do Secretariado da Pastoral da Cultura, na área do diálogo cultural, do património histórico ou da criação artística contemporânea têm marcado uma diferença radical com o deserto que subsistia até há poucos anos.

"Por vezes, no entanto, o que se faz é contraditório. Há um grupo católico internacional, os Arautos do Evangelho, cujos membros aprendem, entre outras coisas, música e canto, tocando depois em missas e cerimónias litúrgicas. São, em grande parte, adolescentes e jovens. Normalmente, fazem-no com um nível excelente de execução musical e instrumental. É pena que ninguém tenha dito aos seus responsáveis que a farda que usam, inspirada nas vestes das antigas ordens militares – é de uma grande falta de gosto, nas cores, nas formas ou na expressão. A estética nunca é neutra e o facto de incluir botas de cano alto e uma espada desenhada a partir da forma da cruz de Cristo, remete para expressões da Igreja que já deveriam estar ultrapassadas.

"Ontem, no Terreiro do Paço, lá estavam alguns arautos fardados, a participar no coro e na missa. Mas não eram só eles. Outros grupos com expressões deste tipo faziam-se notar. Por contraste, o altar da missa celebrada em Lisboa era de uma feliz concepção. Tal como a animação durante a tarde, que recuperou várias canções das jornadas mundiais de juventude –belas obras musicais, que aliam o gosto poético à música contemporânea.

"Já a campanha com o lema “Foi o Pai que me ensinou” peca por ineficaz: para quem está fora da Igreja (e para muitos dos que estão dentro) o significado do “Pai” não era perceptível.

"No encontro na Capela Sistina, em Novembro, Bento XVI citou Dostoievski perante os artistas: “A humanidade pode viver sem a ciência, pode viver sem pão, mas sem a beleza não poderia viver nunca, porque não teríamos mais nada para fazer no mundo.” Os católicos têm que perceber isto profundamente (…)"
(ver todo o artigo AQUI).

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