Começo por esclarecer que sou apenas um cidadão comum que, por acaso, obrigação e prazer, gosta de arte.
Devo dizer que também não sou daqueles que acha que a arte contemporânea terminou com Duchamp.
Gosto da novidade e da criatividade, embora me aperceba do beco sem saída em que se encontram muitos dos artistas contemporâneos quando se deparam com um mundo onde tudo ou quase tudo, em termos criativos e de experimentação, já foi testado no século XX.
Contudo, penso que ainda resta alguma margem criativa na arte contemporânea, principalmente explorando, num dos extremos, as novas tecnologias, e no outro a arte mais primitiva, como a dos grafites.
Contudo não deixo de me confrontar, como qualquer cidadão comum, com algumas perplexidades dos rumos que a arte actual vai tomando, caindo em simples modismos, em ditaduras do gosto impostas por críticos, curadores e galerias de arte, mais interessadas no lucro das suas decisões do que na arte em si.
Fico igualmente perplexo com o ridículo em que muitos artistas caem à custa de quererem ser originais numa actividade onde tal é cada vez mais difícil, raiando por vezes o anedótico, como aquele célebre caso que aconteceu numa galeria da Figueira da Foz onde uma empresa de limpeza foi processada porque as suas “colaboradoras” resolveram, depois de encerrada essa galeria, e quando procediam à limpeza, deitar para o lixo os cacos de uma sanita que aí encontraram, a qual, afinal, era uma “peça de arte” que fazia parte da exposição; ou aquele outro caso que envolveu uma longa polémica, aqui há uns anos, e que não sei como terminou, porque a prestigiada Tate de Londres resolveu comprar as fezes de um artista italiano, que as tinha exposto, num acto provocador, e que eram classificadas por críticos e curadores imprescindíveis a um espaço onde a arte contemporânea era a razão do seu prestigio internacional.
Estas situações estão ao nível da caricatura e do anedótico, e serão minoritárias. Pela minha parte, descontando esses excessos, continuo fã da arte contemporânea e tenho assistido a muitas exposições criativas e surpreendentes.
Toda esta conversa vem a propósito de uma polémica que por aí estalou, por causa de um artigo de Pacheco Pereira sobre aquilo que ele designa como “Culturalês” que tem vindo a contaminar a cultura e a arte do nosso tempo.
É um tema interessante a discutir e a seguir, por isso deixamos aqui as principais peças desse processo (só não conseguimos uma cópia digital do texto mais recente sobre o tema, da autoria de António Guerreiro, “O Processo da Arte Contemporânea”, publicado na edição do Expresso de 4 de Setembro último, no ATUAL (pág.36):
Deixamos à vossa reflexão este tema.
Sem comentários:
Enviar um comentário