Tomei conhecimento da existência desta revista há cerca de dois anos, por razões profissionais.
Já era um comprador habitual de revistas de arte espanholas e francesas e foi com entusiasmo que me tornei comprador habitual da L+Arte.
Agora chega-nos a triste notícia. Chegando à 80ª edição essa revista vai ter o destino de quase todas as revistas dedicadas à arte e à cultrura, que é o seu fim.
Em Portugal há espaço para revistas e jornais de "coscuvilhice", "futebol", ou ..."economia", situação bem reveladora do estado cultural (ou mesmo civilizacional) deste cada vez mais pobre país.
Fica a lutar pela sobrevivência o "Jornal de Letras", que já foi semanal e agora é quinzenal, e o espaço de um ou outro jornal dedica à actividade cultural e artística.
É por estas e por outras , se nos compararmos com países como a Espanha ou a França, para falar daqueles que nos estão mais próximos, onde se publicam dezenas de revistas e jornais dedicadas às mais diversas artes,que continuamos a ser os "pobres diabos" da cauda da Europa".
Ao contrário do que se passa em Portugal, quando a Inglaterra enfrentava uma das mais graves crises da sua história, a guerra contra a Alemanha nazi, e havendo também por lá quem, em nome da austeridade sugerisse que se deixasse de apoiar as artes e a cultura, Churcill lhes respondeu com uma pergunta: "então para que é que vamos lutar?".
Já não existem, nem na Europa, e muito menos em Portugal homens como esse.
Deixamos aqui uma transcrição do artigo que, sobre o assunto, o jornal Público hoje editou, da autoria da jornalista Lucinda Canelas:
"PORTUGAL TEM ESPAÇO PARA AS REVISTAS DE ARTE?
"Na capa dois ursos de Jeff Koons dizem adeus. A obra do artista norte-americano é evocativa - o número de Março da L+Arte é o último. Sete anos e 81 números depois, o grupo Entusiasmo Media (EM) põe fim a esta revista de arte, leilões e antiguidades. Motivo? Incapacidade de garantir o patrocínio necessário para manter a revista nas bancas.
"Sem um ou vários patrocínios anuais seria muito difícil à EM assegurar a continuidade", disse ao P2 Paula Brito Medori, 48 anos, directora da revista desde 2006. A saída do BPI e da CGD da lista de patrocinadores e a impossibilidade de os substituir devido à crise financeira que começou em 2008 tornou este desfecho inevitável. "Tentei sensibilizar potenciais patrocinadores a não deixarem desaparecer a única revista de arte portuguesa. Não tive muita sorte..."
"A L+Arte junta-se, assim, à lista de revistas de arte que nos últimos 15 anos deixaram de ser publicadas em Portugal, com destaque para a Colóquio Artes (Gulbenkian, 1971-1996), a Artes e Leilões (que ressurgiu), a Pangloss e a Arte Ibérica. As razões que levam ao desaparecimento destas revistas prendem-se sobretudo com a relação que mantêm com os anunciantes e com as próprias instituições culturais. Os primeiros retiram-se em períodos de crise, as segundas não perceberam ainda que papel podem ter estas publicações na consolidação do meio artístico, resumem os curadores e historiadores ouvidos pelo P2.
Anunciantes-âncora
"José Pedro Paço d"Arcos, director da Artes & Leilões, uma publicação mensal especializada, mas de temática mais abrangente, lamenta o fim da L+Arte. Apontando a "enorme fragilidade" que decorre de "depender esmagadoramente dos anunciantes", Paço d"Arcos explica ainda a falência destes projectos com "a inexistência de uma massa crítica de leitores". Para o director da Artes & Leilões, fundada em 1989, fechada em meados dos anos 90 e reaberta em 2007, "não há mais de três mil pessoas em Portugal que se interessem por uma revista de artes pura e dura". Desses, apenas 500 a mil a compram sempre. "A publicidade e os patrocínios cobrem 80 a 90 por cento dos custos."
"Mas alargar o naipe de temas como faz a Artes & Leilões pode afastar os leitores especializados, alerta o curador Pedro Lapa. "Falta um público suficientemente alargado para este tipo de publicações, mas alargar a outros temas não é a solução", diz. Para o historiador de arte, que foi director do Museu do Chiado, a combinação de temas da L+Arte era "adequada ao país", embora a junção da arte contemporânea ao universo de leilões e antiquários pudesse não agradar a todos.
"Raquel Henriques da Silva discorda. Mais optimista, a ex-directora do Instituto Português de Museus acredita que em Portugal há público para uma revista como a L+Arte e que foi a publicidade que falhou. "A estratégia de pôr todos os ovos do mecenato no mesmo cesto não foi a melhor." Combinar o mercado com a arte era uma das suas mais-valias: "A abrangência aos leilões e ao antiquariado fazia com que chegasse a mais pessoas."
"Com o fim da revista é a relação das pessoas com os promotores culturais que sai prejudicada, diz o historiador de arte Joaquim Caetano. "A cultura tem cada vez menos visibilidade nos jornais, que têm cada vez menos crítica de exposições", diz.
"A área da crítica era, também para Delfim Sardo, curador que criou a revista de arte contemporânea Pangloss (2000-2003), uma das mais-valias. "Era praticamente o único espaço que existia para a crítica. Ela está tão mitigada nos jornais que não cumpre a sua função, que é a de ser formativa e estabelecer critério."
"Projecto bem sucedido
"Para Sardo, Caetano e Henriques da Silva, o fim da L+Arte não é um fracasso, nem reflexo da impossibilidade de o mercado manter uma publicação do género. "Não sei se as revistas de arte em Portugal não vingam... A Arte Ibérica e a L+Arte publicaram 80 números, o que não é assim tão mau. É claro que nenhuma delas é a Gazette des Beaux-Arts [fundada em 1859], mas foram projectos sólidos", diz Caetano.
"O projecto foi "excepcionalmente bem sucedido", acrescenta Henriques da Silva, colaboradora da revista desde 2006. "Mas é frustrante que acabe, quando estava claramente a crescer em qualidade."
"Para Sardo, o que falhou foi a publicidade e a relação da L+Arte com as instituições culturais. "O meio artístico prefere anunciar em jornais generalistas. As galerias, os museus e outras instituições culturais mostram pouca visão", critica. "Não percebem que têm a responsabilidade de anunciar neste tipo de publicação, que é fundamental para a criação de um meio artístico", conclui".
Por Lucinda Canelas
in Jornal Público
16 de Março de 2011
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