JOAN NAAR
Em Espanha acaba de ser editada a obra que é considerada a “Bíblia do grafite”.
Trata-se da obra do fotógrafo Joan Naar publicada há mais de 35 anos nos Estados Unidos, intitulada “A Fé do Grafite”.
Tudo aconteceu quando Naar, em 1972, resolveu documentar graficamente a eclosão desse tipo de pinturas que invadia então as paredes do metro de Harlem, em Nova Iorque.
O fotógrafo procurou descobrir os seus autores, e encontrou miúdos de 12 ou 13 anos. Interessou-se principalmente pelas suas motivações, tanto mais que até então o grafite era encarado como simples acto de vandalismo.
Depois disso apresentou o seu trabalho a Norman Mailer, que prefaciou o livro que foi editado nos Estados Unidos em 1974. A sua edição mudou a forma de encarar o grafite.
Por ocasião do lançamento dessa obra em Espanha, o El País, na sua edição de 24 de Março último, solicitou a Naar que comentasse algumas das fotografias que aparecem nessa obra:
"Graff Kids"
“Fixei nesta foto um grupo de grafiteiros em finais de Dezembro de 1972, na paragem de metro de Washington Heights, a norte de Harlem. Foi durante a primeira hora do primeiro dia em que trabalhei na encomenda que me tinha sido feita por uma empresa britânica de desenho. Queriam edita um livro promocional com alguns temas novaiorquinos. O grafite estava espalhado por toda a cidade. Era o fenómeno visualmente mais estimulante naquele lugar e momento”.
"Red Star"
“Quando sai da carruagem essa tarde, estes rapazes, quase crianças – eram latinos, afroamericanos e um branco – estavam “dando uma volta” na parede. Um aproximou-se de mim, olhou para as minhas duas câmaras e perguntou-me o que estava a fazer. Quando lhe contei que estava a fotografar grafites para um livro, começaram-se a rir.”Qual é a graça?”, perguntei-lhes. “É que nós somos escritores de grafite”, disse, oferecendo-se para me mostrar algumas das suas obras primas”.
"Street Writers New"
“Durante os nove dias seguintes gastei 100 rolos de Kodachrome (3000 fotografias). Os rapazes acompanharam-me para que visse os seus grafites e os dos outros, ensinando-me como trabalhavam”.
"Frank"
“Como fotojornalista estava especialmente interessado no contexto em que se faziam os grafites. No geral faziam-nos nas vizinhanças do gueto onde os escritores viviam. Marcavam um número a seguir à sua assinatura. Por exemplo, Frank 136, era o Frank da rua 136”.
"Yellow Bathhouse people"
“Assinavam por todo o lado, em qualquer espaço público próximo. Tanto nas carruagens de metro ou nos autocarros, como em pátios, como nesta imagem”.
“Esta foto tem uma importância especial, porque a maioria dos putos nunca tinham estudado ou visitado museus. Retiravam a sua inspiração dos anúncios que viam nos comboios, autocarros e estações de metro”.
"Time Square Shrttle"
“Quando o livro era ainda uma maquete convidamos Norman Mailer a escrever o prefácio porque era um grande nome. Tornou-se no primeiro crítico importante a chamar de arte ao grafite. Deu ao fenómeno uma importância muito maior que o dos sonhos mais selvagens dos rapazes que os fizeram. A Primeira edição de “A Fé do Grafite” é conhecida como “A Bíblia” deste meio”.
"House of Soul"
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