Até ao próximo dia 10 de Janeiro é possível ver, no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, uma raro “confronto” entre as obras de dois artistas tão diferentes e distantes no tempo como Ingres e Bacon.
Pela primeira vez vão estar expostos, lado a lado, a obra “Edipe et le Sphinx”, do pintor neo-clássico Ingres, pintada entre 1805 e 1825, e pertencente ao Museu do Louvre, e a obra de Francis Bacon, “Oedipus and the Sphinx after Ingres”, baseada naquela, e pintada em 1983, pertencente à Colecção Berardo.
O tema das obras remete-nos para o mito de Édipo, descrito na tragédia de Sófocles, o jovem príncipe filho do rei de Tebas, a quem foi profetizado que mataria o seu pai e casaria com a sua mãe. Para fugir ao seu destino, o rei de Tebas manda matar Édipo, mas este é salvo por um pastor que o entrega ao rei de Coríntio, que o cria como filho legítimo. Sendo-lhe revelado o seu destino pelo oráculo, e julgando-se filho do rei de Coríntio, foge para Tebas, onde a Esfinge aterroriza os seus habitantes. Quem encarasse a Esfinge era submetido ao famoso enigma , ao qual tinha de responder para escapar à morte: “quem era o animal que caminhava com quatro patas na infância, com duas em adulto e com três na velhice?”. Era o Homem. Édipo foi capaz de resolver o enigma e por isso a Esfinge. A figura masculina, ao fundo da obra de Ingres parece representar um Édipo maduro, horrorizado perante o destino que o esperava.
Jean- Auguste-Dominique Ingres foi discípulo de Davis, viveu entre 1780 e 1867, foi um dos principais representantes do chamado neoclassicismo na pintura que se caracterizava pelo recurso aos temas da mitologia clássica, às alegorias, aos assuntos históricos ou heróicos, e ao retrato. Formalmente recorria à perfeição do desenho como suporte das pinturas, obedecendo aos padrões clássicos de beleza, equilíbrio e geometria. Esta obra é apenas uma das várias que o pintor elaborou sobre aquele tema.
Por sua vez, Francis Bacon (1909-1992) foi um dos artistas mais famosos da segunda metade do século XX, próximo da chamada “Nova Figuração”, usando uma linguagem de origem expressionista, com base numa temática figurativa, com recurso a cores fortes e dinâmicas.
Esta é pois uma rara oportunidade de ver em confronto duas obras tão diferentes, unidas pelo mesmo tema.
Édipo e a Esfínge, de Ingres (1805-1825), Museu do Louvre.
Édipo e a Esfínge Depois de Ingres, de Francis Bacon, Colecção Berardo (1983)
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